Punho cerrado

seunkuti

Sim, Seun Kuti é filho de Fela Kuti. Mas aqui a questão não é apenas genética: além do sangue que corre em suas veias, ele grava e toca com a última banda que acompanhou seu pai (a Egypt 80, com oito ou nove integrantes remanescentes) e é o artista mais engajado em manter viva a contundência do afrobeat original – tanto em sua estética musical, como no discurso.

Fela ganhou notoriedade nos anos 70, quando misturou a hipnose rítmica africana com elementos do jazz e do funk norte-americanos. As  músicas se estendiam por um lado inteiro dos LPs com mais de dez minutos de duração e vinham acompanhadas de uma mensagem política raivosa que denunciava a opressão vigente na Nigéria e as desigualdades da África.

O gênero hoje já foi assimilado pela música pop quase tanto quanto o soul ou o reggae, é citado como uma referência importante para vários artistas (Beyoncé, TV on The Radio e Céu, por exemplo) e muitas bandas espalhadas pelo mundo se dedicam à reinvenção do afrobeat (como a norte-americana Antibalas e as brasileiras Bixiga 70 e Abayomy). Seu discurso, no entanto, muitas vezes de dilui em trabalhos mais interessados no potencial dançante do que na mensagem de protesto (no que não há nada de errado, diga-se).

É importante que haja, no entanto, um porta-voz africano e engajado com a raiz contestadora do afrobeat. Com a morte de Fela, em 1997, Seun foi alçado à condição de novo líder da Egypt 80 aos 14 anos. Escoltado pela banda, já lançou três discos: “Many Things” (2007), “From Africa With Fury: Rise” (2011) e o mais recente “A Long Way To The Beggining” (2014).

Ele já esteve duas vezes no Brasil e o show é de uma potência impressionante. O repertório sempre abre com algum clássico de Fela (“Zombie”, “Kalakuta Show” e “Colonial Mentality” são algumas das candidatas) e sua banda exala uma sincera devoção aos pilares do gênero – um transe coletivo com ataques agressivos dos metais, percussão e guitarras entrelaçados em grooves hipnóticos, baixo e bateria sincopando de um jeito intrigante e as dançarinas… Bem, faltam palavras pra descrever o suingue delas. É uma experiência e tanto.

Para você já entrar no clima, segue um top 5 de sua obra.

1) “Many Things”:

2) “Mr. Big Thief”:

3) “Slave Masters”:

4) “IMF”:

5) “African Smoke”:

(Por Ramiro Zwetsch)

Serviço:
Seun Kuti e Egypt 80
Quando: 28/09 às 18h
Onde: no Vale do Anhangabaú.
Quanto: grátis
Show de abertura, às 16h: Orchestre Poly-Rythmo de Cotonou
Intervalos: Festa Fela (c/ DJs Haru, MZK, RamiroZ e Vini Marson)

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